
Em Rio Preto, Agosto é tempo de reencontro. É o tempo em que a vida nos devolve uns aos outros.
Desde o dia 29 de Junho, as batidas da caixa atravessam ruas, quintais e memórias… no coração entoa um chamado silencioso, que ressoa mais fundo a cada dia até atingir, o auge, o tão esperado dia 14 de Agosto, quando o Mastro de Nossa Senhora do Rosário é erguido. Neste instante, olhos marejados se cruzam, e há um sentimento coletivo impossível de conter “estamos em casa, juntos outra vez.”
A vida, com seus caminhos inevitáveis, espalha pelo mundo grande parte dos Riopretanos, que só o Agosto consegue reunir, a Festa do Rosário une esses laços que a distância tentou desfazer, os reencontros são tão sagrados como as orações.
Os filhos ausentes retornam, reencontrando no calor da festa a certeza de que suas raízes seguem firmes no mesmo chão vermelho onde correram descalços, quando crianças. As famílias se reúnem nos gestos de afeto, nos olhares, nos apelidos antigos ditos entre risadas a abraços.
No dia 15, pela manhã, a marcha “Rompeu da Aurora” é o anuncio de que ainda seguiram três dias de festa, de fé, de música, de dança, de cores, de muita alegria… e muitas bençãos.
A fé se renova ao acompanhar a Marujada, é quando cada coração, coloca nas mãos de Nossa Senhora do Rosário e de São Gonçalo suas mais profundas angústias e dores, na certeza que esta sendo ouvido, e que o auxílio virá dos céus.
As mesas fartas nas casas dos festeiros, trazem não só, comida boa e farta, feito com muito amor, mais também, memória, tradição, afeto, histórias recontadas e lembranças que o tempo não conseguiu apagar.
E talvez seja esse um dos milagres de Agosto: lembrar-nos de que, ainda que o tempo passe as distâncias se alonguem, existem um mês, uma festa e uma fé fervorosa que nos chama de volta para casa.
Ao final do dia 17, a marujada entoa a última marcha:
“Adeus, adeus amor…
Todo mundo adeus, amor…
Adeus que eu já vou me embora…”
E aqui , não há quem não sinta um aperto no peito. É como se o ciclo de vida se condessasse naquela marcha: a alegria de ter vivido intensamente dias incríveis e a tristeza da despedida.
Mas ao mesmo tempo, esse “Adeus” é uma promessa silenciosa:
Te encontro em Agosto.
Sob as benção de Nossa Senhora do Rosário e de São Gonçalo.
Homenagem a tão amada Marujada e a Festa de Agosto de são Gonçalo do Rio Preto.
E em especial, ao meu Pai (Pedro Luiz Rocha) marujo há 61 anos.
Débora Rocha
Riopretana
17 de Agosto de 2025, desde Ciudad do México.